Junte-se a nós!

Olá a todos! Sejam bem-vindos ao nosso blog. Ele faz parte de um programa de formação a distância de educadores cujo foco são as Práticas de Leitura e Escrita na Contemporaneidade, ou seja, no contexto digital. O curso é desenvolvido e aplicado pela Escola de Formação de Professores "Paulo Renato de Souza", vinculada à Secretaria de Estado da Educação do Estado de S. Paulo. Esperamos, com nosso blog, atrair pessoas interessadas no incentivo à leitura e também ajudar na discussão sobre a importância da leitura, para, quem sabe assim, criarmos novos desbravadores dessa imensidão que é o território da leitura. A princípio, vocês poderão ver depoimentos dos fundadores do blog sobre os primeiros contatos com a palavra escrita. Visitem sempre este espaço e não deixem de postar seus comentários!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Todo Mundo e Ninguém (versão de Drummond)


Apreciem abaixo a versão de Carlos Drummond de Andrade para o trecho Todo o Mundo e Ninguém de Gil Vicente, temos aí um exemplo claro de intertextualidade e uma singela homenagem do poeta mor brasileiro ao incomparável dramaturgo português. O poema de Drummond foi publicado em 1977 no livro Discurso de Primavera e Algumas Sombras.

Todo Mundo e Ninguém
(Auto da Lusitânia, de Gil Vicente)

Ninguém: Tu estás a fim de quê?

Todo Mundo: A fim de coisas buscar
                          que não consigo topar.
                          Mas não desisto, porque
                          O cara tem de teimar.

Ninguém: Me diz teu nome primeiro.

Todo Mundo: Eu me chamo Todo Mundo
                          e passo o dia e o ano inteiro
                          atrás de dinheiro,
                          seja limpo ou seja imundo.

Belzebu: Vale a pena dar ciência
                  e anotar isto bem, 
                  por ser fato verdadeiro:
                  Que Ninguém tem consciência
                  e Todo Mundo, dinheiro

Ninguém: E que mais procuras, hem?

Todo Mundo: Procuro poder e glória.

Ninguém: Eu cá não vou nessa história.
                    Só quero virtude...Amém.

Belzebu: O papai não se ilude
                  e traça: Livro Segundo.
                  Busca o poder Todo Mundo
                  e Ninguém busca virtude.

Ninguém: Que desejas mais, sabido?

Todo Mundo: Minha ação elogiada
                           em todo e qualquer sentido.

Ninguém: Prefiro ser repreendido
                   quando der uma mancada.

Belzebu: Aqui deixo por escrito
                  o que querem, lado a lado:
                  Todo Mundo ser louvado
                  e Ninguém levar um pito.

Ninguém: E que mais, amigo meu?

Todo Mundo: Mais a vida. A vida olé!

Ninguém: A vida? Não sei o que é.
                    A morte, conheço eu.

Belzebu: Esta agora é muito forte
                  e guardo para ser lida:
                  Todo Mundo busca a vida
                  e Ninguém conhece a morte.

Todo Mundo: Também quero o Paraíso,
                           mas sem ter que me chatear.

Ninguém: E eu, suando pra pagar
                    minhas faltas de juízo!

Belzebu: Para que sirva de aviso,
                  mais uma transa se esvreve:
                  Todo Mundo quer Paraíso
                   e Ninguém paga o que deve.

Todo Mundo: Eu sou vidrado em tapear,
                           e mentir nasceu comigo.

Ninguém: A verdade eu sempre digo
                   sem nunca chantagear.

Belzebu: Boto anúncio na cidade,
                  deste troço curioso:
                  Todo Mundo é mentiroso
                  e Ninguém fala a verdade.

Ninguém: Que mais, bicho?

Todo Mundo: Bajular.

Ninguém: Eu cá não jogo confete.

Belzebu: Três mais quatro igual a sete.
                  O programa sai do ar.
                  Lero lero lero lero,
                  curro paco paco paco.
                  Todo Mundo é puxa-saco
                  e Ninguém quer ser sincero!



Um comentário: