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Olá a todos! Sejam bem-vindos ao nosso blog. Ele faz parte de um programa de formação a distância de educadores cujo foco são as Práticas de Leitura e Escrita na Contemporaneidade, ou seja, no contexto digital. O curso é desenvolvido e aplicado pela Escola de Formação de Professores "Paulo Renato de Souza", vinculada à Secretaria de Estado da Educação do Estado de S. Paulo. Esperamos, com nosso blog, atrair pessoas interessadas no incentivo à leitura e também ajudar na discussão sobre a importância da leitura, para, quem sabe assim, criarmos novos desbravadores dessa imensidão que é o território da leitura. A princípio, vocês poderão ver depoimentos dos fundadores do blog sobre os primeiros contatos com a palavra escrita. Visitem sempre este espaço e não deixem de postar seus comentários!
Apreciem abaixo a versão de Carlos Drummond de Andrade para o trecho Todo o Mundo e Ninguém de Gil Vicente, temos aí um exemplo claro de intertextualidade e uma singela homenagem do poeta mor brasileiro ao incomparável dramaturgo português. O poema de Drummond foi publicado em 1977 no livro Discurso de Primavera e Algumas Sombras.
Todo Mundo e Ninguém
(Auto da Lusitânia, de Gil Vicente)
Ninguém: Tu estás a fim de quê?
Todo Mundo: A fim de coisas buscar que não consigo topar. Mas não desisto, porque O cara tem de teimar.
Ninguém: Me diz teu nome primeiro.
Todo Mundo: Eu me chamo Todo Mundo
e passo o dia e o ano inteiro
atrás de dinheiro,
seja limpo ou seja imundo.
Belzebu: Vale a pena dar ciência e anotar isto bem,
por ser fato verdadeiro: Que Ninguém tem consciência e Todo Mundo, dinheiro
Ninguém: E que mais procuras, hem?
Todo Mundo: Procuro poder e glória.
Ninguém: Eu cá não vou nessa história. Só quero virtude...Amém.
Belzebu: O papai não se ilude e traça: Livro Segundo. Busca o poder Todo Mundo e Ninguém busca virtude.
Ninguém: Que desejas mais, sabido?
Todo Mundo: Minha ação elogiada em todo e qualquer sentido.
Ninguém: Prefiro ser repreendido quando der uma mancada.
Belzebu: Aqui deixo por escrito o que querem, lado a lado: Todo Mundo ser louvado e Ninguém levar um pito.
Ninguém: E que mais, amigo meu?
Todo Mundo: Mais a vida. A vida olé!
Ninguém: A vida? Não sei o que é. A morte, conheço eu.
Belzebu: Esta agora é muito forte e guardo para ser lida: Todo Mundo busca a vida e Ninguém conhece a morte.
Todo Mundo: Também quero o Paraíso, mas sem ter que me chatear.
Ninguém: E eu, suando pra pagar minhas faltas de juízo!
Belzebu: Para que sirva de aviso, mais uma transa se esvreve: Todo Mundo quer Paraíso e Ninguém paga o que deve.
Todo Mundo: Eu sou vidrado em tapear, e mentir nasceu comigo.
Ninguém: A verdade eu sempre digo sem nunca chantagear.
Belzebu: Boto anúncio na cidade, deste troço curioso: Todo Mundo é mentiroso e Ninguém fala a verdade.
Ninguém: Que mais, bicho?
Todo Mundo: Bajular.
Ninguém: Eu cá não jogo confete.
Belzebu: Três mais quatro igual a sete. O programa sai do ar. Lero lero lero lero, curro paco paco paco. Todo Mundo é puxa-saco e Ninguém quer ser sincero!
O texto abaixo pertence a peça Auto da Lusitânia, escrita pelo grande mestre humanista, Gil Vicente, em 1531 e representada pela primeira vez em 1532, perante a corte de D. João III quando nasceu seu filho, D. Manuel. O auto atesta a genialidade deste dramaturgo português, pois apesar de ter sido escrito há quase 500 anos, mantém-se extremamente atual.
Neste auto, assiste-se ao casamento de Portugal, cavaleiro grego, com a princesa Lusitânia. Dois demônios, Berzebu e Dinato, que aparecem no texto vêm presenciar o casamento e escutam o diálogo entre Todo o Mundo e Ninguém.
O autor deu o nome de Todo o Mundo e Ninguém às suas personagens principais desta cena. Pretendeu com isso fazer humor, caracterizando o rico mercador, cheio de ganância, vaidade, petulância, como se ele representasse a maioria das pessoas na terra (todo o mundo). E atribuindo ao pobre, virtuoso, modesto, o nome de Ninguém, para demonstrar que praticamente ninguém é assim no mundo.
Fiz algumas atualizações vocabulares para tornar mais fácil a leitura e o entendimento do trecho.
Leiam e comprovem a atualidade e a genialidade deste auto!
Todo o Mundo e Ninguém
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Todo o Mundo, homem como rico mercador, e faz que anda buscando alguma coisa
que perdeu; e, logo após ele, um homem, vestido como pobre. Este se chama
Ninguém, e diz:
Ninguém: Que andas tu aí
buscando?
Todo o Mundo: Mil coisas ando a buscar: delas não posso achar, porém ando teimando, por quão bom é teimar.
Ninguém: Qual é seu nome,
cavaleiro?
Todo o Mundo: Meu nome é Todo o
Mundo, e meu tempo todo inteiro sempre é buscar dinheiro, e sempre nisto me fundo.
Ninguém: E eu tenho por nome
Ninguém, e busco a consciência.
Berzebu para Dinato: Esta é boa experiência!
Dinato, escreve isto bem.
Dinato: Que escreverei,
companheiro?
Berzebu: Que Ninguém busca
consciência.
E Todo o Mundo dinheiro.
Ninguém para Todo o Mundo: E agora que buscas lá?
Todo o Mundo:Busco respeito social muito grande.
Ninguém: E eu virtude, que Deus
mande.
Que tope com ela já.
Berzebu para Dinato: Outra adição nos acude:
escreve aí, a fundo,
que busca respeito social Todo o
Mundo,
e Ninguém busca virtude.
Ninguém para Todo o Mundo: Buscas outro maior bem que esse?
Todo o Mundo:Busco mais quem me louvasse tudo quanto eu fizesse.
Ninguém:E eu quem me repreendesse em cada coisa que errasse.
Berzebupara Dinato: Escreve mais.
Dinato: Que tens sabido?
Berzebu: Que quer em extremo grado Todo o Mundo ser louvado, e Ninguém ser repreendido.
Ninguém para Todo o Mundo: Buscas mais, amigo meu?
Todo o Mundo: Busco a vida e quem me a dê.
Ninguém: A vida não sei que é,
a morte conheço eu.
Berzebupara Dinato: Escreve lá outra sorte.
Dinato: Que sorte?
Berzebu: Muito garrida:
Todo o Mundo busca a vida,
e Ninguém conhece a morte.
Todo o Mundo para Ninguém:E mais queria o paraíso,
sem ninguém para me estorvar.
Ninguém: E eu ponho-me a pagar
quanto devo por isso.
Berzebu para Dinato: Escreve com muito cuidado.
Dinato: Que escreverei?
Berzebu: Escreve que Todo o Mundo quer paraíso,
e Ninguém paga o que deve.
Todo o Mundo para Ninguém: Gosto muito de enganar,
Hoje teremos a grande final da Libertadores da América entre o Timão e o Boca.
Que todos os jogadores do Corinthians vistam-se com as armas de São Jorge e tragam para nós esse tão sonhado título, fazendo assim a alegria e felicidade de uma nação de mais de 30 milhões de corinthianos.
VAI CORINTHIANS!!!
"Eu andarei vestido e armado com as armas de Jorge... São Jorge"
O texto postado abaixo é um belíssimo poema da poetisa portuguesa Nathália Correia. Logo abaixo do texto, postei também um vídeo de nossa Abelha Rainha recitando um trecho do poema. Verdadeiramente um deleite. Apreciem sem moderação!
A Defesa do Poeta
Senhores jurados sou um poeta um multipétalo uivo um defeito e ando com uma camisa de vento ao contrário do esqueleto
Sou um vestíbulo do impossível um lápis de armazenado espanto e por fim com a paciência dos versos espero viver dentro de mim
Sou em código o azul de todos (curtido couro de cicatrizes) uma avaria cantante na maquineta dos felizes
Senhores banqueiros sois a cidade o vosso enfarte serei não há cidade sem o parque do sono que vos roubei
Senhores professores que puseste a prémio minha rara edição de raptar-me em crianças que salvo do incêndio da vossa lição
Senhores tiranos que do baralho de em pó volverdes sois os reis sou um poeta jogo-me aos dados ganho as paisagens que não vereis
Senhores heróis até aos dentes puro exercício de ninguém minha cobardia é esperar-vos umas estrofes mais além
Senhores três quatro cinco e sete que medo vos pôs na ordem? que pavor fechou o leque da vossa diferença enquanto homem?
Senhores juízes que não molhais a pena na tinta da natureza não apedrejeis meu pássaro sem que ele cante minha defesa Sou uma impudência a mesa posta de um verso onde o possa escrever ó subalimentados do sonho ! a poesia é para comer.